Em minha jornada profissional, além de psicologia, fiz inúmeros cursos na área comportamental e mesmo assim, sempre me questiono se estou sendo coerente no que falo, escrevo ou penso sobre o tema.
O que mais me espanta atualmente é como a psique humana tem sido tratada de forma tão simplista pelos profissionais “comportamentais” e “terapeutas” – frequentemente com uma formação duvidosa. Tudo parece concentrar-se em uma redução à pura felicidade ou em uma oferta de sucesso via fórmulas prontas, com sete, oito ou vinte passos e seus gráficos, muitas vezes, sem qualquer base teórica e muito menos validação científica.
Alguns teóricos do comportamento humano como Freud e Jung levaram anos para desenvolverem teorias, buscando entender a complexidade da psique humana e os estudos de neurociências avançam a cada dia, mas ainda muita coisa não se sabe.
Algumas instituições oferecem cursos de poucas horas com técnicas de atendimento que garantem uma significativa mudança no outro. – Será?
Como se fôssemos todos iguais, calculáveis e suscetíveis a fórmulas exatas e a métodos precisos. Criamos uma espécie de Drive-thru de soluções para tudo. Com o imediatismo dessas novas gerações, as empresas, no anseio de gerar colaboradores mais produtivos e motivados, vão pelo mesmo viés. A área de Recursos Humanos descabela-se para atender as exigências de diretores, que acreditam na possibilidade de treinamentos muito breves geradores de um milagre organizacional.
Veja bem, não estou desconsiderando a qualidade de todas instituições, cursos e métodos oferecidos atualmente, apenas estou provocando uma reflexão sobre como podemos ter tantos terapeutas, coaches e profissionais do comportamento humano, formados tão rapidamente e com a promessa de organizar a vida ou a carreira de alguém.
“O que negas te subordina, o que aceitas te transforma” (Carl Gustav Jung).
Essa necessidade imediatista de que tudo pode ser transformado rapidamente e de modo certeiro, desconsiderando a subjetividade de cada um, beira à insanidade.
O ser humano é influenciado por traços genéticos, família, personalidade, comunidade, estímulos educacionais, entre tantos outros fatores, que uma fórmula de sete passos para mudar sua autoestima jamais teria vantagem sobre os diversos acontecimentos construídos em sua psique. O buraco é literalmente mais embaixo, ou inconsciente.
Eu acredito que tudo que lhe faça bem pode ser terapêutico, pois uma pessoa não precisa necessariamente fazer anos de análise para ter mais autoconhecimento. Existem outros tantos métodos terapêuticos, até fora da psicologia, que fazem bem, trazendo excelentes resultados. Quem sou eu para julgar? Mas tudo depende do profissional e da instituição que você busca. Observe bem quem cuida de você ou de sua equipe.
Certa vez, uma grande amiga contou-me que uma famosa palestrante sugeria que as pessoas vendessem o carro para participar de um caro Workshop, ministrado por ela, que, com toda certeza, mudaria a vida das pessoas. Essa proposta parece até uma promessa religiosa, não é mesmo? Quem mensura isso depois? Nem tudo vale a pena para ganhar dinheiro. Além disso, trocar seu carro por uma palestra já traz uma enorme mudança na vida, não?
Costumo dizer: “venda somente o que você pode entregar”.
Muitos profissionais vendem-se de forma marqueteira e prometem mudanças imensas e inovadoras. Cuidado! Muito cuidado! Simpatia, fluência na oralidade e persuasão não são sinônimos de resultados. Seja mais crítico! Se você precisa de ajuda, estude ao menos um pouco a técnica a ser adotada.
Se as soluções fossem tão fáceis, teríamos uma sociedade mais saudável e menos depressiva, com funcionários mais felizes e mais saudáveis, mas não é o que apontam as pesquisas sobre o tema.
Nossa urgência de ter um direcionamento, realizar desejos e sonhos deve ser questionada e, sobretudo, desacelerada. Por isso, eu insisto naquela frase tão citada na área de RH: “mudança é um processo, não um evento” (Michael Fullan, 1991).
a