Ao longo dos meus cinco anos como consultor em acessibilidade, tratando do tema da diversidade e inclusão, dentro e fora das empresas, já ouvi uma dezena de absurdos e de meias-verdades sobre o universo da pessoa com deficiência. No início, eu ficava surpreso com os tipos de questionamentos e ficava incomodado com a falta de informação e com o excesso de desinformação. Até que caiu uma grande ficha para mim! Nunca ninguém parou um minuto para falar realmente sobre o mundo das deficiências sem a visão médica da coisa. Foi então que resolvi fazer um compilados das coisas mais frequentes que ouço para poder explicar e educar as pessoas sobre esse universo que, só no Brasil, reúne mais de 45 milhões de pessoas!! Sim, cerca de 25% da nossa população tem alguma dificuldade em enxergar, falar, ouvir, raciocinar ou se movimentar. No mundo, estamos falando de quase 1 bilhão de pessoas com alguma deficiência. Então, se você pensava que estávamos falando de uma minoria, pode mudar de opinião. Vamos então às principais dúvidas sobre as pessoas com deficiência.
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Esta talvez seja a dúvida mais comum e que a grande maioria das pessoas acaba cometendo deslizes. Quando tentamos ser ‘politicamente corretos’, usamos eufemismos; e isso só piora a situação. O termo correto e aceito internacionalmente é “pessoa com deficiência”. Qualquer termo fora este, será impreciso ou poderá até mesmo gerar algum mal-estar junto à pessoa. O termo “pessoa com deficiência” está em vigor desde 2006, quando houve a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da ONU. No Brasil, o conteúdo deste documento chegou ao Brasil em 2008, com efeito de emenda constitucional. Ou seja, este termo está fundamentado na nossa própria Constituição Federal. Então, risque os seguintes termos do seu bloco de anotações: “portador de deficiência”, “deficiente” e “portador de necessidades especiais”. |
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- O que devo falar ou fazer ao me apresentarem a uma pessoa com deficiência?
Que tal começar com um “olá! tudo bem?” e dizer qual seu nome? Emendar algo como “prazer em conhecer você” também cai bem. Lembre-se: você está à frente de uma PESSOA, feita de carne e osso, como você. Agir de forma natural é sempre a melhor dica. Então, trate-a normalmente como você já faz com todos os demais. Fácil, não?!
- Por que as pessoas têm deficiências?
Ao contrário do que muitas pessoas possam achar, no Brasil e no mundo, as grandes causas de deficiência não têm nada a ver com genética e nem são hereditárias. Atualmente, um número pequeno de pessoas nascem com deficiência. Na maior parte dos casos, as deficiência são adquiridas em vida. Infecções causadas pela falta de saneamento básico, falta de assistência pré-natal, erro médico na hora do parto e, principalmente, acidentes de carro e com arma de fogo são algumas das causas de as pessoas terem deficiências. Ou seja, ninguém está protegido. Todos somos vulneráveis.
- Todo surdo é mudo?
Não, nem sempre. Inclusive, tenho amigos e amigas surdas que “falam pelos cotovelos”! Na verdade, uma coisa não tem nada a ver com a outra, por incrível que possa parecer. O número de pessoas que não podem ouvir (surdez) e nem falar (mudez) é bem pequeno. A pessoa com surdez ou surda, seja com perda total ou parcial da sua audição, pode aprender a se comunicar oralmente através de exercícios e muita prática. No entanto, muitas pessoas surdas não falam ou porque não aprenderam a falar ainda ou porque se adaptaram totalmente à LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, que é considerada a Língua oficial da comunidade surda. A mudez autêntica, ou seja, a incapacidade total de falar é extremamente rara e geralmente decorrente de lesões cerebrais.
Nãão! São coisas totalmente diferentes. A deficiência intelectual (e não “mental”, como alguns dizem) pode ser consequência de uma doença, mas ela não é uma doença; é uma “condição”, uma determinada limitação. Além de doenças, pode ser causada por acidentes, desnutrição, fatores orgânicos e/ou por fatores genéticos. Atualmente, tem se falado bastante em “deficiências biopsicossociais”, que seria o grupo que reúne tanto as deficiências intelectuais, como Síndrome de Down, quanto outros transtornos cognitivos e psíquicos, como o Autismo e Esquizofrenia, por exemplo. |
Espero ter contribuído para esclarecer alguns pontos sobre a vida da pessoa com deficiência e, assim, aproximar os leitores deste universo gigantesco que muitas vezes parece ser invisível de muitas pessoas que vivem no Brasil. Para que tenhamos uma sociedade inclusiva é preciso que tenhamos informação. Este é o primeiro passo para um Brasil mais igualitário e respeitoso que tanto queremos vivenciar.
Rodrigo Credidio é consultor, palestrante e sócio-fundador da Good Bros Acessibilidade & Inclusão. |